O Programa de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa (ALE-RR) ministrou nesta quarta-feira (26), no Posto de Recepção e Apoio (PRA1) da Operação Acolhida, uma palestra para os migrantes venezuelanos sobre tráfico de pessoas. A atividade faz parte da programação da Semana Alusiva ao Coração Azul.
A Campanha Coração Azul tem como objetivo conscientizar a sociedade sobre o tráfico de pessoas. O local foi escolhido porque os migrantes estão em situação de vulnerabilidade, portanto mais suscetíveis às situações de exploração, como abusos sexuais e trabalho escravo.
A palestra foi ministrada pela diretora do programa, Socorro Santos, que destacou durante o evento que a liberdade das pessoas é inegociável e não pode ser comercializada.
“A gente sabe que eles podem ser um público vulnerável para esse tipo de violência por se encontrarem na rua e em outros espaços que podem ser alvo dos traficantes para o trabalho escravo e exploração sexual. O melhor caminho é a prevenção, por isso que, dentro do Programa de Direitos Humanos, investimos no Projeto Educar é Prevenir e em palestras nos mais variados lugares”, explicou Socorro Santos, ao salientar que o foco da Campanha Coração Azul é que as pessoas se sensibilizem com a causa.
Ela explicou que o traficante estuda a vítima de uma forma que, quando consegue cooptá-la, ela fique sem chances de se libertar.
“A pessoa é convencida a sair de um local para ir a outra mais miserável, uma prisão, mesmo sem algemas. Ela fica presa emocionalmente porque os seus documentos são apreendidos. Ou seja, tem o direito de ir e vir, mas sem documentos, o que impede de sair para mais longe. Além da grande dívida que contrai, sofre violência física e psicológica pelas ameaças contra os familiares”, ressaltou Socorro.
Há um mês no Brasil, a migrante Mayerlin Córdova, 23 anos, está no abrigo aguardando o processo de interiorização para Santa Catarina. Ela, a mãe e uma filha vão morar com o irmão. Ela morava em São Félix, na Venezuela, e trabalhava como caixa de supermercado. Viúva, a situação a obrigou a migrar para o Brasil e abandonar o curso de técnica em aduana, faltando quatro meses para a conclusão.
“Eu tenho medo. Muitas pessoas se aproveitam da necessidade da gente e oferecem um trabalho, porém a realidade é outra, trabalho forçado, escravidão, acabando nossos sonhos “, disse.
A coordenadora do Posto de Recepção e Apoio da Operação Acolhida, Ellene Carla Baeltker, explicou que o local presta apoio aos migrantes que chegam à cidade, auxiliando no processo de interiorização, e que a palestra é um alerta.
“Aqui, a gente trabalha muito com a população que está fora dos abrigos da Operação Acolhida, em situação, muitas vezes, de rua e vulnerabilidade, que precisa de abrigo temporário, servindo as três refeições em parceria com a Cáritas e o governo federal. Já chegamos a servir até 1.500 refeições por período. Temos também outros parceiros, como vocês, que trazem informações para a comunidade saber como acessar seus direitos e entender como funciona um pouquinho de todos os espaços no Brasil”, disse.
Texto: Marilena Freitas
Foto: Marley Lima