‘É um processo de cura da alma’, afirma mulher atendida por grupo terapêutico da ALE-RR

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“Essa rede de apoio é importante para as mulheres que são assistidas, porque nos encoraja a lutar e a buscar a cura e o conhecimento. Somos fortes, mas precisamos de ajuda emocional, e o projeto Flor de Lótus é união, é um processo de cura da alma, é uma cuidando da outra, são palavras de incentivo. Tem sido proveitoso me reunir com várias mulheres, ouvir histórias diferentes, perceber que, apesar de embates, questionamentos e debilidades severas, conseguimos nos conectar e aprender umas com as outras.”

O depoimento que abre esta reportagem é da cabeleireira Walcileia Rodrigues. Natural de Manaus, ela voltou a viver em Roraima há um ano e encontrou no Grupo Terapêutico Flor de Lótus, da Secretaria Especial da Mulher da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), o apoio que precisava para fortalecer a saúde mental e emocional. Criado em março deste ano, o grupo acolhe 15 mulheres vítimas ou não de violência doméstica e familiar. No caso de Walcileia, o isolamento em consequência da pandemia de covid-19 causou sequelas mentais.

“Esse momento é importante para mim. Conheci o grupo por indicação de uma grande amiga e líder cristã, que me fez o convite para eu participar e aceitei. Já tinha feito um tratamento e quando descobri o grupo voltei a participar. A sociedade precisa saber da existência do Flor de Lótus, principalmente aquelas pessoas que estão mais fragilizadas. O cuidado com a mente é muito importante e muitas mulheres não o buscam por falta de informação. Falar hoje é um caminho para que outras mulheres tenham acesso e sejam livres”, acrescentou Walcileia.

O Grupo Terapêutico Flor de Lótus foi criado em março deste ano, com previsão de se encerrar em junho. O foco são mulheres que sofreram ou passam por situações de violência doméstica e familiar e precisam de acolhimento. A terapia soma-se às outras iniciativas da Secretaria Especial da Mulher, como apoio jurídico e de assistência social por meio do Centro Humanitário de Apoio à Mulher (Chame), e ocorre após uma triagem na própria instituição das mulheres atendidas.

Para o presidente do Poder Legislativo, deputado Soldado Sampaio (Republicanos), a iniciativa é um reflexo das políticas públicas que têm sido implementadas pela Casa no que diz respeito ao combate à violência contra a mulher em todas as suas formas. Além das leis aprovadas pelos deputados, que preveem direitos às vítimas, a secretaria se tornou um exemplo de rede de apoio para as mulheres.

“Não podemos compactuar com o cenário de violência em Roraima contra as mulheres. Esta Casa tem discutido esse assunto e está comprometida com a rede de enfrentamento. No ano passado, incluímos a Secretaria Especial da Mulher na Mesa Diretora do parlamento para que as demandas sejam discutidas com celeridade e as políticas públicas sejam ainda mais fortalecidas”, complementou Sampaio.

Como tem sido o grupo?

Os encontros ocorrem às quartas-feiras, das 9h às 10h, na sede da Secretaria Especial da Mulher, localizada na Avenida Santos Dumont, nº 1470, bairro Aparecida, onde a vítima pode buscar outros serviços presencialmente, de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h. Mais informações também podem ser obtidas pela ferramenta ZapChame no número (95) 98402-0502.

“É um grupo totalmente novo para o Chame. É a primeira iniciativa de terapia focada em grupo para nossas assistidas. O objetivo é trabalhar de forma global o desenvolvimento delas, sendo, inclusive, ministrado pelas nossas equipes multidisciplinares. As sessões incluem rodas de conversa, palestras informativas e didáticas sobre superação de traumas, inteligência emocional e autoconhecimento. Ou seja, a redescoberta de seu valor próprio e da sua identidade”, enalteceu a diretora da secretaria, Glauci Gembro.

A psicanalista Janaína Nunes, que faz parte da equipe de gestão dos encontros, explica que um grupo terapêutico é um organismo vivo, que vai tomando forma com o passar das sessões coletivas e se tornando independente da previsão. Ela afirma que os temas abordados com as mulheres foram pensados de forma didática, indo desde a formação da personalidade até o resgate da identidade tomada pelos agressores.

“Muitas vezes, os agressores tiram essa identidade, e elas não sabiam que isso acontecia. Já falamos sobre o processo de individuação e como ser sujeito de direitos e deveres, trabalhamos o amor-próprio e a autoestima, que são conceitos diferentes do senso comum, e elas desmistificaram muita coisa sobre isso. Tivemos encontro voltado para os transtornos emocionais que podem levar ao adoecimento psíquico sujeitos à medicação e à internação, como a ansiedade e depressão”, detalhou Janaína.

A psicanalista menciona que grande parte das mulheres têm traumas que carregam desde a infância. Por essa razão, ao chegarem à idade de ter um parceiro, acabam, de maneira inconsciente, buscando um perfil agressor. Contudo, ela ressalta que os traumas não são fator determinante para que a mulher permaneça em uma relação abusiva e que a vítima nunca é culpada pela violência sofrida.

“Essa personalidade sofreu, portanto, o que chamamos de crivagem, ou seja, uma cisão do eu verdadeiro e do eu que foi separado. Por isso, quando chega à idade de buscar um parceiro para si, ela busca, inconscientemente, um abusador, porque ela tem uma identidade que não foi construída de uma maneira em que possa se defender. Está sempre buscando algo que faltou nos traumas, para tapar buracos, mas tudo de forma inconsciente. Agora elas entendem esse processo, porque trabalhamos isso”, ponderou.

Ainda durante os encontros, com a parceria do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em Roraima (Sebrae-RR), foi discutida a independência financeira. Nas próximas sessões, a Casa da Mulher Brasileira vai fazer uma explanação sobre todos os direitos previstos para as vítimas de violência doméstica e familiar, como a prioridade em moradia social e para obtenção da CNH Cidadã.

Relatos de quem participa

Uma das mulheres que participam do grupo relatou que se sentia dentro de um armário. Entretanto, a partir dos encontros terapêuticos, conseguiu avançar no processo de cura de suas emoções e afirma que o Grupo Flor de Lótus tem mudado a vida dela.

“Tenho medo, mas como eu tinha, não tenho mais. Quando eu cheguei no grupo, me vi diferente. Foi conversando com todas as mulheres, com a psicanalista, que aprendi muito. É gratificante! Nunca pensei na minha vida que depois da idade que estou, eu me daria valor, aprenderia que eu sou um ser importante. E só descobri isso depois de fazer parte do grupo. Estou muito feliz!”, declarou.

Com previsão para se encerrar em 26 de junho, o grupo terá as próximas sessões voltadas para uma ferramenta terapêutica chamada “Oráculo das Mulheres Poderosas”, que não tem questão mística. Trata-se de uma dinâmica com cartas que têm a história de mulheres do cenário mundial e do Brasil, que contribuíram para o avanço da sociedade. Cada participante vai desenvolver sua própria carta, com suas biografias.

“Fui para a reunião e foi a coisa mais maravilhosa. Nunca tinha visto isso na minha vida! Me surpreendi ao ver a doutora e as meninas se divertindo. Foi a coisa mais linda do mundo. Nunca senti o que eu senti no grupo, foi maravilhoso. Estão todos de parabéns. Deus coloca as pessoas certas para ajudar quem não tem condições. É um projeto maravilhoso e eu sou grata a Deus e a elas também”, expressou outra mulher.

Fonte: FolhaBV ALE-RR

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