Com a chegada de setembro, uma nova campanha criada por meio de uma lei aprovada na Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) entra em cena. Trata-se da Semana Estadual de Combate e Prevenção ao Alcoolismo, instituída pela Lei nº 996/2015, cujo projeto é de autoria da deputada Aurelina Medeiros (Progressistas).
Conforme a norma, a campanha de conscientização deve ocorrer na primeira semana deste mês, ocasião em que serão realizadas palestras, seminários e atividades afins. Para tanto, o Poder Público estadual deve apoiar essa iniciativa incluindo a possibilidade de utilização de espaços públicos para a realização desses eventos, fortalecendo o vínculo entre o Estado e a população.
Para o presidente da Casa Legislativa, deputado Soldado Sampaio (Republicanos), a campanha é fundamental para sensibilizar a população sobre os perigos do alcoolismo e incentivar práticas de prevenção.
“A Semana Estadual de Combate e Prevenção ao Alcoolismo é uma iniciativa que reafirma nosso compromisso com a saúde pública. Dessa forma, buscamos criar um ambiente propício para o diálogo e a conscientização, impactando positivamente a vida dos cidadãos de Roraima”, destacou o parlamentar.
A campanha se torna ainda mais relevante quando se analisa os dados sobre a ingestão de bebida alcoólica no Brasil. De acordo com pesquisa realizada pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), em 2023, 45% dos brasileiros consomem bebidas alcoólicas em eventos sociais e até mesmo em casa. Além disso, 27% consomem álcool de forma moderada, enquanto 17% têm um consumo excessivo. No entanto, 75% dos que bebem em excesso acreditam que seu consumo é moderado.
O levantamento indicou ainda que os motivos para o consumo de bebidas alcoólicas entre os brasileiros são variados, mas predominam os aspectos relacionados ao prazer e à sensação de recompensa. Um dos fatores mais destacados pelos participantes da pesquisa é a socialização, pois muitos afirmam que o álcool os ajuda a se sentirem mais desinibidos para interagir, conversar e descontrair, além de auxiliar na criação e manutenção de amizades.
Do esporádico à regularidade
Esse motivo foi o que levou o Roberto (nome fictício), de 27 anos, a começar a ingerir bebidas alcoólicas. Ele informou que o início com o álcool foi ainda muito jovem, em que ele bebia para socializar com amigos e familiares.
“Eu comecei a ter contato com o álcool ainda na adolescência, por volta dos 15 ou 16 anos. Estava junto com colegas e amigos do meu pai, e a curiosidade acabou me levando a experimentar. Comecei com pequenas doses, mas, com o tempo, perdi o controle e o que era apenas uma experiência acabou se transformando em um vício”, disse o rapaz.
O que até então era algo pontual, passou a ser cada dia mais frequente. A bebida alcoólica foi decisiva para a quebra de confiança nas relações familiares e trabalhistas de Roberto. “Bebia todo dia, foi quando não conseguia mais cumprir meus compromissos, comecei a faltar ao trabalho e já não era o mesmo. As coisas começaram a faltar em casa, porque eu tirava o que tinha para poder beber”, revelou.
A decisão foi então pedir ajuda e, há quase um ano, Roberto está sendo assistido pela Associação Agapão, entidade que busca a recuperação de dependentes químicos por meio do auxílio de profissionais de saúde e do incentivo ao emprego. Devido ao trabalho desenvolvido, a organização recebeu recursos oriundos de emenda parlamentar do deputado Soldado Sampaio em 2022.
“Antes, estava completamente perdido, andando sem rumo pelas ruas. Comparado ao que sou hoje, a diferença é enorme. Agora, estou em um momento excelente, me sinto top. Já faz quase um ano que estou sóbrio, e me sinto como uma nova pessoa, renovado”, contou Roberto.
O coordenador da associação, Jadiel Ribeiro, é psicólogo e há 16 anos conhece a realidade de quem é dependente químico. Ele abordou alguns motivos pelos quais as pessoas buscam a ingestão excessiva de bebidas alcoólicas e até de outras drogas.
“Os usuários de álcool e outras drogas frequentemente buscam um ponto de equilíbrio para lidar com questões emocionais, estresse ou problemas no ambiente familiar. Muitas vezes, eles recorrem ao álcool na esperança de resolver essas dificuldades. No entanto, essa é uma falsa sensação de controle, pois o uso da substância tende a se tornar progressivo e agravar os problemas em vez de resolvê-los”, declarou o psicólogo.
Por isso, o profissional destaca que os cuidados com dependentes químicos são constantes. “O álcool não causa apenas danos físicos e mentais para quem faz uso abusivo, mas também acarreta prejuízos sociais, afetando a família, o emprego e outros aspectos da vida pessoal. Portanto, reconhecemos que a dependência é uma doença incurável e progressiva, em que se deve oferecer o suporte necessário para lidar com essa realidade”, concluiu Jadiel.
Centro Reflexivo Reconstruir
A violência doméstica e familiar, muitas das vezes, está associada ao alcoolismo. Nesse sentido, a Casa Legislativa, por meio do Centro Reflexivo Reconstruir, possui equipe multidisciplinar composta por psicólogo, advogado e assistente social, destinado aos autores de violência doméstica do Estado.
A equipe do programa realiza encontros para tratar sobre temas sensíveis a exemplo de depressão, estresse e agressividade, álcool e drogas, valores familiares e Lei Maria da Penha (nº 11.340/06). O foco é a mudança comportamental, buscando o bem-estar da família.
O programa da ALE-RR está disponível à população na sede da Secretaria Especial da Mulher, localizada na Avenida Santos Dumont, 1.470, bairro Aparecida. Já os moradores de Rorainópolis e adjacências podem buscar apoio no Núcleo no novo prédio do programa especial da ALE-RR, na Avenida Dra. Yandara, nº 3.058, no Centro. Os atendimentos presenciais ocorrem de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h.
Texto: Anderson Caldas
Fotos: Alfredo Maia, Jader Souza e Nonato Sousa